
Salário pago em produtos: Como provar irregularidade e exigir dinheiro
Equipe Trabalho Justo
09 de julho de 2025
4 min de leitura
Introdução
Receber salário em produtos ao invés de dinheiro é uma prática que ainda acontece em diversos setores, especialmente no comércio, agricultura e pequenas empresas. Embora possa parecer conveniente em alguns casos, essa forma de pagamento frequentemente esconde irregularidades graves que violam seus direitos trabalhistas fundamentais.
A legislação brasileira estabelece regras claras sobre como o salário deve ser pago, e o pagamento exclusivo em produtos raramente atende aos requisitos legais. Conhecer essas regras é essencial para identificar quando você está sendo prejudicado e tomar as medidas necessárias para garantir o recebimento correto da sua remuneração.
O que a CLT Determina Sobre Pagamento de Salário
A Consolidação das Leis do Trabalho é categórica no artigo 463: o salário deve ser pago preferencialmente em moeda corrente do país. Isso significa que o dinheiro deve ser a forma principal de pagamento, não produtos ou mercadorias.
A lei permite o pagamento parcial em utilidades, como alimentação, habitação ou vestuário, mas estabelece limites rigorosos. Essas utilidades não podem ultrapassar 70% do salário mínimo vigente, garantindo que o trabalhador sempre receba uma quantia significativa em dinheiro para suas necessidades básicas.
Além disso, as utilidades fornecidas devem ter valor real e ser efetivamente utilizadas pelo empregado. Produtos sem valor comercial, vencidos ou inadequados para uso não podem ser considerados parte do salário, caracterizando fraude na remuneração.
Como Identificar Irregularidades no Pagamento em Produtos
Ausência Total de Pagamento em Dinheiro
Quando você recebe apenas produtos sem qualquer valor em dinheiro, a irregularidade é evidente. A lei exige que pelo menos 30% do salário mínimo seja pago em moeda corrente, independentemente de acordos ou contratos que estabeleçam o contrário.
Produtos Sem Valor Comercial Real
Mercadorias com defeito, próximas ao vencimento, sem demanda no mercado ou com preços superfaturados não podem compor o salário. O empregador não pode usar o pagamento em produtos como forma de se desfazer de mercadorias encalhadas ou defeituosas.
Falta de Comprovação do Valor dos Produtos
O empregador deve comprovar o valor real dos produtos fornecidos, preferencialmente com notas fiscais ou documentos que atestem o preço de mercado. Valores arbitrários ou estimativas sem base documental caracterizam irregularidade no pagamento.
Imposição de Produtos Desnecessários
Quando o empregador força o recebimento de produtos que você não precisa ou não pode utilizar, configura-se abuso. O pagamento em utilidades deve beneficiar efetivamente o trabalhador, não servir aos interesses exclusivos da empresa.
Como Comprovar a Irregularidade
Documentação Essencial
Mantenha todos os comprovantes de pagamento, incluindo recibos, notas fiscais dos produtos recebidos e registros de comunicação com a empresa sobre a forma de pagamento. Fotografe os produtos recebidos, especialmente se estiverem em más condições.
Pesquisa de Preços de Mercado
Faça pesquisas regulares dos preços dos produtos que você recebe como pagamento. Compare com valores praticados no comércio local e mantenha registros dessas pesquisas, incluindo prints de sites ou fotos de preços em estabelecimentos.
Testemunhas e Colegas de Trabalho
Identifique colegas que também recebem pagamento em produtos e que possam testemunhar sobre as condições e valores. Depoimentos de outros funcionários fortalecem significativamente sua posição em eventual ação trabalhista.
Registro das Condições dos Produtos
Documente detalhadamente as condições dos produtos recebidos, especialmente se estiverem vencidos, danificados ou inadequados. Essas evidências são fundamentais para comprovar que o pagamento não atende aos requisitos legais.
Passos Para Exigir Pagamento em Dinheiro
Comunicação Formal com o Empregador
Inicie sempre com uma comunicação formal por escrito, solicitando a regularização do pagamento conforme a legislação trabalhista. Mantenha cópia de toda correspondência e exija protocolo de recebimento quando entregar pessoalmente.
Busca por Orientação Sindical
Procure o sindicato da sua categoria profissional para orientação específica sobre como proceder no seu caso. Muitos sindicatos têm experiência com situações similares e podem oferecer suporte jurídico ou mediar negociações com o empregador.
Ação na Justiça do Trabalho
Se a empresa se recusar a regularizar o pagamento, você pode ingressar com ação trabalhista para exigir o pagamento correto retroativo e a regularização futura. A Justiça do Trabalho tem competência para determinar o valor real devido e estabelecer multas por descumprimento.
Cálculo dos Valores Devidos
Utilize nossa calculadora trabalhista para estimar os valores que você tem direito a receber. Considere a diferença entre o valor real dos produtos e o salário que deveria ser pago em dinheiro, incluindo reflexos em férias, 13º salário e FGTS.
Perguntas Frequentes
Tire suas principais dúvidas sobre salário menor que o mínimo e seus direitos trabalhistas
O empregador pode pagar todo o salário em produtos?
Não, a lei exige que pelo menos 30% do salário mínimo seja pago em dinheiro. Pagamento exclusivo em produtos é irregular e você pode exigir a correção na Justiça do Trabalho.
Como calcular o valor real dos produtos recebidos?
Compare os preços com o mercado local, exija notas fiscais dos produtos e mantenha registros de pesquisas de preço. O valor deve corresponder ao preço real de venda, não a estimativas arbitrárias da empresa.
Posso recusar produtos e exigir dinheiro?
Sim, você tem direito de questionar o pagamento em produtos e exigir que seja feito conforme a legislação. A recusa não pode ser motivo para demissão ou retaliação.
Produtos vencidos podem ser considerados salário?
Não, produtos vencidos, danificados ou sem valor comercial não podem compor o salário. Essa prática caracteriza fraude e você pode exigir o pagamento correto retroativamente.
Quanto tempo tenho para questionar pagamentos irregulares?
Durante o contrato, você tem cinco anos para questionar irregularidades. Após o término do vínculo empregatício, o prazo é de dois anos para ingressar com ação trabalhista.
O que fazer se a empresa se recusar a regularizar?
Procure orientação sindical e considere ingressar com ação na Justiça do Trabalho. Mantenha toda documentação organizada e continue registrando as irregularidades enquanto busca solução judicial.
Posso pedir demissão por justa causa da empresa?
Sim, o pagamento irregular do salário pode caracterizar rescisão indireta, permitindo que você peça demissão e receba todas as verbas como se tivesse sido demitido sem justa causa.
Ainda tem dúvidas sobre seus direitos trabalhistas?
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